quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Biografia I – Um pouco de tudo.
Nasci não sei bem onde. Sou do tempo que brinquedos não eram feitos na China. Quer dizer, se eram, ninguém botava isso estampado no corpo da gente. Sou filho da Estrela (Estrela é nossa companheira…). Naquela época, brinquedo bom era brinquedo Estrela. Cabeçudo, meio calvo, sem pernas e com os braços malhados. Cheguei dentro de um saco – daqueles grampeados por cima, com um papelão e um buraquinho para ficar pendurado nas lojas -, o nome é de fábrica: Kiko. Eu tinha um colete azul com a letra “K” em branco. Kiko. Meio óbvio, né? Quem me colocou à serviço do chefe foi um cara engraçado chamado Yoman. Pequeno, olhos azuis e careca, parecia ser – ele, Yoman –, desde o início, um cara confiável. Tinha o péssimo hábito de chamar as crianças de Micróbios. Mas sempre foi um sujeito bacana. Aliás, pelas mãos dele, eu ingressei no cinema. Quer dizer, ele fez um roteiro onde, eu e dois outros amigos, vivíamos aventuras numa selva repleta de perigos, monstros e coisas assim. Com mais calma, vou postar aqui todos os detalhes desse filme.
O ano de nascimento foi 1970. Exatamente no Natal. Gostei do lugar de saída. Crianças, adultos gaiatos… Tinha até um gato, o Samuca. Que fim levou esse felino? Acho que foi envenenado, ou qualquer coisa assim.
Nasci pra vida no Rio de Janeiro. Carioca, malandro e cheio de vida. Podia ter sido rato de praia, jogador de futebol, sambista ou sei lá mais o quê. Mas calhou deu ir trabalhar na casa de um menino de 9 anos que achava que era artista. Escrevia uns contos malucos, desenhava HQs com personagens palitos e fazia experiências artísticas. Cá entre nós, um horror em termos de arte. Mas o danado era criativo e não demorou para se meter com uma filmadora Super 8 Chinon (Será isso?). Tinha tudo, até coladeira e moviola.
Vivi minha vida toda na rua Santa Clara. Uma rua divisora de águas que separa Copacabana no meio. Se você está de frente para o mar, é Posto 6 à direita e Leme à esquerda. Primeiro, era um prédio velho… Número 242, no Segundo andar… Quer dizer… Terceiro? Não lembro mais. Vou perguntar à irmã do chefe. Ela não esquece nada. Depois, mudamos para o 261, aptartamento 302. Lá vivi os melhores anos da minha vida. Realizei dois filmes e, quando estava para graver o terceiro, a Companhia faliu. Daqueles tempos, guardo ainda a roupa de esparadrapo. Iria viver o Capitão James T. Kiko numa espécie de refilmagem do seriado Jornada nas Estrelas. Lembro com carinho de minha parceira, a Brigitte Bordô. Atuou comigo em meu segundo longa e, pelo que sei, nunca mais se ouviu falar dela… Pena. Tinha talento e era, de fato, muito bonita.
No 261 também sofri os revezes da vida. Desempregado, meio jogado pelos cantos, quase que esquecido. Cheguei a pensar em largar tudo e me perder pela vida. Sarjeta, doação… Acabei resistindo. Também lá quase fui morto por um Dálmata… Shakespeare. Pouca gente sabe, mas tenho deformações nos pés devido a um ataque deste cachorro. Tudo bem. Águas passadas e nenhum rancor. O bicho já partiu dessa para uma melhor. Melhor pra mim, é verdade. Também recordo da chegada dos G.I. Joes – no Brasil, anos depois, eles foram lançados com o nome de Falcon. Rapaz… Sujeitos bacanas. Gringos, louros, morenos, fortes… Que papo mais gay, hein? Bem, os caras eram legais. Tinham equipamentos sofisiticados, armas, roupas e tudo mais. Hoje, nem sei por onde andam… É duro perder os amigos. Mas a vida vai te levando por caminhos estranhos. No final, acredite, é cada um por si. Devem estar guardados nos armários, lá no Rio. Ah, esqueci de mencionar, hoje moro em Fortaleza, no Ceará. Daqui, viajei um bocado acompanhando o chefe. Viagens de lazer, trabalho, emergências… Sempre acompanho o cara, fazer o quê? Sem mim, ele fica meio desorientado. Deve ser a idade.

3 comentários:

  1. Esse Kiko é uma lenda entre os brinquedos. Muito antes daqueles gringos do Toy Story, esse rapaz de plástico já vivia suas aventuras. Bem vindo ao mundo do blogs, meu caro. Essa blogosfera tava ficando muito chata mesmo.
    Abraços,
    Silvio César

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  2. "Sujeitos bacanas. Gringos, louros, morenos, fortes...". Entendi agora porque o Sílvio gosta tanto do Kiko.

    Ah, um abraço ao chefe do Kiko.

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  3. Fico feliz em saber que o boneco Kiko virou gente sem ser pinóquio!Também com um chefe desse que guarda tudo,sabe tudo e se lembra de tudo..Interessante que o Kiko não deixa de rir nunca!Acho que a primeira estória do Kiko pode ter o título "o Boneco que ri".

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